16 setembro 2011

Biodiversidade de florestas intocadas é insubstituível

       Mico típico da Amazônia: mata recuperada não tem a mesma riqueza de espécies

Uma análise abrangente de 138 estudos publicada no periódico Nature nesta quarta-feira (14) indica que as chamadas florestas primárias – aquelas que não sofreram corte raso ou outras grandes alterações – são insubstituíveis no que se refere à manutenção da biodiversidade. O objetivo da análise global foi medir os efeitos variados de uso da terra e da degradação florestal sobre a biodiversidade em florestas tropicais.

Segundo os pesquisadores liderados por Luke Gibson, da Universidade Nacional de Cingapura, a biodiversidade das florestas tropicais é muito afetada pela degradação da natureza. E, ao contrário do que se imaginava até agora, as florestas secundárias, como é chamada a vegetação que nasce após corte de árvores ou o desmatamento, não são substitutas à altura das florestas primárias. Ou seja, as florestas degradadas e secundárias não oferecem a mesma biodiversidade ao ambiente.

“Nós mostramos que as florestas secundárias são invariavelmente pobres quando comparadas às florestas primárias não degradadas. Por isso, devemos fazer o que for possível para proteger as florestas primárias remanescentes”, disse ao iG o autor principal da análise, Luke Gibson.

29 agosto 2011

Excesso de CO2 provoca falta de lateralização em peixes

A lista de consequências já é grande, mas caso as emissões de dióxido de carbono (CO2) continuem a aumentar, o comportamento dos peixes poderá ficar gravemente perturbado, segundo avança um estudo publicado na «Biology Letters», por investigadores da James Cook University (Austrália).

Peixes crescidos em laboratório, numa água enriquecida com CO2 em proporções semelhantes às quantidades previstas para dentro de umas décadas, perderam todas as faculdades de lateralização, ou seja, verificou-se que não conseguiam distinguir a direita da esquerda.
Em condições normais, estes animais são geralmente ‘inteligentes’ e capazes de se dirigirem para o mesmo lado para fugir de um predador ou ara se deslocarem. A equipa de Philip Munday, líder do estudo, mostrou que o CO2 afecta o comportamento auditivo e os níveis de actividade de peixes de recife larvais, aumentando o seu risco de serem apanhados por predadores.

Contudo, os mecanismos que estão na base dessas modificações ainda são desconhecidos. A lateralização comportamental é uma expressão de assimetrias cerebrais funcionais e assim leva à hipótese que CO2 afecta a função cerebral.

Os investigadores realizaram testes num labirinto que mostraram que os peixes que habitam águas cheias de dióxido de carbono se deslocam de forma aleatória, sem ter orientação. Os investigadores querem tentar saber se os sentidos dos seres humanos também. No entanto, vão continuar a debruçar-se sobre os peixes para descobrir que outros sintomas podem apresentar. 

22 maio 2010

Um Quinto dos Lagartos pode ser exterminado por causa do Aquecimento, Aponta estudo

As perspectivas das espécies de lagartos diante do aquecimento global não são nada animadoras, segundo estudo publicado recentemente na revista Science, no qual a conclusão é de que um quinto delas poderá ser exterminada até 2080.

De acordo com o grupo internacional de cientistas que trabalhou no estudo, a espécie brasileira Liolaemus Lutzae, comum em restingas, é uma das mais ameaçadas de extinção, caso a humanidade não diminua os atuais índices de emissões de gases causadores de efeito estufa.

"Só é possível mencionar essa espécie no Brasil porque ainda temos relativamente poucos dados sobre outros lagartos no país. Mas é provável que o risco afete outras espécies de áreas costeiras e semiáridas, como a Caatinga", explicou ao jornal Folha de S.Paulo desta sexta-feira, 13 de maio, o pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Carlos Frederico Duarte Rocha, coautor do estudo.

Os cientistas se basearam em dados de temperatura e extinções locais (ou seja, o sumiço de populações de uma espécie, ainda que não da espécie inteira) compilados desde 1975. Conforme explicação do pesquisador, os lagartos, tanto os que tomam sol diariamente quanto os que vivem em ambientes fechados, não aguentam temperaturas além de certo limite. "Depois disso, entram em torpor e morrem", observou.

Consequências

Calcula-se que 4% das populações de lagartos já sumiram com as mudanças de temperatura que foram registradas nos últimos anos. Mantida tal tendência, 39% delas terão sido extintas até 2080, número que corresponde a 20% das espécies.

O resultado? Menos controle das populações de invertebrados (comidas por eles) e menor quantidade de alimento para os predadores de lagartos, como as aves. No Brasil, o estudo teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

 

Foto: sondebueu

25 janeiro 2010

Onça-pintada é ameaçada de extinção na Caatinga

Há 356 animais no bioma, mas só metade em idade reprodutiva; Mata Atlântica tem situação crítica.




A região da Chapada Diamantina, Bahia, pode ficar sem onças-pintadas em um prazo de nove anos e meio. Já para a área de Bom Jesus da Lapa, no mesmo Estado, o prognóstico é ainda pior: a extinção da espécie pode ocorrer em aproximadamente três anos. Para evitar um destino trágico, é preciso proteger mais áreas e tentar conectar, por meio de corredores ecológicos (ligação entre áreas de uso menos intensivo para garantir a sobrevivência da espécie), os grupos que hoje estão isolados.




Os dados são do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), órgão ligado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente. O Cenap avalia que a onça-pintada (Panthera onca) está criticamente ameaçada na Caatinga.




A estimativa, segundo o analista ambiental do Cenap Rogerio Cunha de Paula, é que existam no bioma 356 animais, divididos em cinco áreas. Desse total, apenas cerca da metade está em idade reprodutiva (descontam-se os animais mais jovens e os muito velhos). Dessa forma, o número restante, 178, deixa a espécie em situação crítica - um dos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês) para a classificação é haver menos de 250 animais.




Outra analista ambiental do Cenap, Beatriz Beisiegel afirma que a situação na Mata Atlântica também é extremamente grave. De acordo com ela, uma estimativa preliminar, baseada em informações de diversos pesquisadores, indica a existência de "170 indivíduos maduros" no bioma. Ela conta que é muito difícil encontrar vestígios do animal e mais raro ainda vê-lo.




Os estudos confirmam que a população de onças-pintadas vem caindo a cada ano. Entre as ameaças tanto na Caatinga quanto na Mata Atlântica estão a alteração e a perda de hábitat, provocadas pelo desmatamento, e a falta de alimento (as chamadas presas). Na Caatinga, diz de Paula, parte da população se alimenta de tatus e porcos-do-mato e acaba ocorrendo uma competição pelas presas. Também faltam matas contínuas para garantir a sobrevivência da onça-pintada. Outro conflito é que, ao matar rebanhos, elas podem incomodar fazendeiros e serem perseguidas.




Na lista vermelha da IUCN, a onça-pintada aparece como "quase ameaçada". Pelo Ibama, ela é considerada "vulnerável". Isso porque sua situação é melhor em outros biomas e regiões. Dentro do Brasil, o quadro está mais tranquilo no Pantanal e na Amazônia. É por isso que Leandro Silveira, presidente do Instituto Onça-Pintada, defende ações regionalizadas. "Cada bioma tem um problema diferente."




A onça, explica, é uma espécie guarda-chuva. Ao fazer um esforço para sua preservação, várias outras espécies que estão no mesmo ecossistema se beneficiam. Ele acredita que o melhor é investir na Amazônia, que tem grandes áreas intocadas, para garantir a sobrevivência do animal.




De acordo com ele, o custo de tentar reestruturar a população na Mata Atlântica é proibitivo. "É caro e há o risco de não funcionar. O melhor é investir em ações onde é mais viável manter os animais", afirma. Já a Caatinga, segundo ele, precisa de investimento imediato. "Ou se faz algo agora ou é melhor esquecer", diz.




Ele cita a Serra Vermelha, no Piauí, área onde uma empresa pretende produzir carvão a partir da floresta. Uma onça já foi fotografada na área. "É o último grande pedaço de Caatinga intacto e deve ser mantido."

03 outubro 2009

A PROCURA DA ONÇA-PINTADA NA CAATINGA PIAUIENSE É DESTAQUE NO GLOBO REPORTER

A onça-pintada, o maior felino das Américas, é um dos animais sobreviventes encontrados na Serra da Capivara, sul do Piauí. Uma surpresa para os pesquisadores. No Nordeste, elas são tão raras que parecem lendas.

"Eu só acreditei depois que vi", conta o agricultor Arnoldo Ribeiro. Viu e acabou escapando por um triz. O encontro com a onça-pintada deixou marcas. Primeiro, ele viu o filhote dentro de um buraco no paredão. "Era um filhote de onça! Meu cunhado, que estava fora, disse que havia o rastro de um cachorro. Eu disse que não era de um cachorro porque ainda está o mau cheiro da urina dela. O filhote tinha mais ou menos três dias de nascido", lembra. saiba mais
Equipe enfrenta a Caatinga em busca da onça-pintada

Enquanto Arnoldo admirava o filhote, mal sabia que também estava sendo observado pela mãe superprotetora. Ele levou um susto. "Eu escorreguei tentando correr e caí. Quando eu percebi, ela vinha com a boca aberta para pegar meu pescoço. Foi Deus que ajudou, porque eu caí e ela bateu nas minhas costas, me escorei com meu braço, o rosto no chão, caí só com o peso dela. Depois que ela me atacou, voltou para dentro da fenda. Ela só estava defendendo o filhote, que parecia um cabrito recém-nascido", lembra o agricultor.
"Nós sabemos que eles estão aqui. O desafio é chegar até o animal", diz o biólogo do Instituto Onça-Pintada, Leandro Silveira.

As fotos provam. São flagrantes de câmeras com sensores. Até a onça-preta, a pantera brasileira, foi fotografada na Serra da Capivara. Treze animais já foram identificados, e a expectativa é de que sejam mais de 30 rondem na região. O biólogo Leandro Silveira comanda a expedição. Missão quase impossível em um pedaço tão selvagem do Nordeste do Brasil.

"Além de serem bastante raras, a região é de difícil visualização. É extremamente difícil visualizar uma onça andando em um ambiente desses. Nós temos esperança de encontrar um rastro fresco o suficiente para que os nossos cachorros possam nos ajudar a chegar até o animal", declara o biólogo.
"Elas moram em tocas nas redondezas, difícil é encontrá-las", afirma o guarda-parque Júlio Filho.

É difícil penetrar na vegetação seca e espinhosa. O biólogo Leandro Silveira fica com o rosto todo sangrando. Todo cuidado é pouco também para os cachorros que farejam a onça.

"Na Caatinga, nunca foi estudado antes. É uma grande surpresa saber que esses animais vivem nesse ambiente", revela Leandro Silveira.

Mas parece que as dificuldades são esquecidas em nome da pesquisa e do trabalho. A prioridade é achar a onça, capturá-la para exames de laboratório, identificação e, depois, soltá-la de novo.

Os cachorros partiram em disparada. Um rastro fresco acabara de ser encontrado! "Pelo rastro, dá para saber se é uma onça-pintada porque é maior, mais compacto, mais preenchido. Os dedos são mais dondos. Dá para ter ideia de que é uma pintada", explica o guarda-parque João Leite.

"Ali na frente" pode significar uma distância de pelo menos oito horas de caminhada pela imensidão da caatinga.

A veterinária Mariana usa uma antena de rádio para tentar captar algum som dos cachorros, que têm coleiras com sensores, para serem rastreados.

O esturro da onça é quase um troféu para os pesquisadores. Foi possível captá-lo em várias reportagens do Globo Repórter no Pantanal, por exemplo.

Mas nas montanhas de pedra da Caatinga, a onça ainda é mais sorrateira. É difícil alcançá-la nos labirintos.

"A esperança não morre nunca. Nosso objetivo, como pesquisadores, é ir até o final dessa história. Nós queremos entender mais como essas onças vivem nesse ambiente e vamos até o fim", conta Leandro Silveira.

Os pesquisadores passaram quatro dias só vendo pegadas da onça. "Vamos encontrá-la, mas temos que lembrar que se fosse fácil qualquer um já teria feito há muito tempo", diz o biólogo.

"Na caatinga é difícil. Esse tipo de desafio ajuda a formar pesquisadores. A ciência avança justamente pelos caminhos ainda não trilhados. Eventualmente é importante para a formação de alguém que queira ser um cientista, enfrentar os problemas e descobrir as novidades", afirma o professor Jader Marinho Filho, da Universidade de Brasília (UnB).